segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

TIPO... ASSIM...


Tô ficando velha!!!
Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha netinha (postiça) adolescente na saída de um show.
Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.
- "E aí, o show foi legal"?
A resposta veio de umas mais exaltadas do banco de trás:
- "Cara! Tipo assim, foda!".
E outra emendou:
- "Tipo foda mesmo!”
Fiquei, tipo assim..., calada o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista. Tô precisando conversar um pouco mais com minha netinha, senão logo logo vamos precisar de tradução simultânea.
Pra piorar ainda mais, inventaram o ICQ, essa praga da internet onde elas ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código secreto.
Tipo assim:
- "Kct! vc tmb nunk tah trank,kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys".
O que significa...!!!!
- "Cacete! Você também nunca está tranqüila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas. Jubys".
Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis".
Só que este é o nome de batismo de minha neta postiça Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia de juventude", que os pais escolheram, sentados na varanda, olhando a lua...
Pois Jubys é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na orelha que quer encher o corpo de piercings e tatuagens.
Tô ficando velha!!!
Outro dia tentei explicar pro mesmo bando de adolescentes o que era uma máquina de escrever. Nunca viram uma. A melhor definição que consegui foi:
- É tipo assim um computador que vai imprimindo enquanto você digita.
Acho que não entenderam nada. Eu sou do tempo do mimeógrafo.
Pra quem não sabe, é uma máquina que você coloca álcool e gira uma manivela pra imprimir o que está na folha matriz.
Por sua vez, essa matriz precisa ser datilografada (ver "datilografia" no dicionário) na tal máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você só descubra os erros depois do trabalho feito), com o papel carbono invertido...
Tipo... É melhor você procurar na internet que deve haver algum site sobre mimeógrafo, papel carbono, essas coisas.
Se eu ficar explicando cada vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar meu próprio raciocínio.
Voltando às garotas, a cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de Brad Pitt e a de Leonardo de Caprio.
Há anos tento convencê-las a ver "Cantando na Chuva", mas sempre fica para depois.
Um dia, cheguei entusiasmada em casa com a fita de um filme francês que marcou minha infância: "A guerra dos botões".
Chamei a Jubys para a exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos, pois ela inventou "um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar tipo amanhã, senão perde ponto".
Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um telefone de discar. Sabe telefone de discar, é tipo assim um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo corresponde a um algarismo. Você enfia o dedo indicador no buraco correspondente ao número que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua de metal e solta a roleta, que lá por dentro está presa a uma mola que a faz voltar à posição inicial.
Esse aparelho serve para conversar com outra pessoa, como qualquer telefone comum, desde que esteja, é claro, conectado na parede.
Eu sou do tempo em que vidro de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha estribo e quebra vento.
Não espalha, mas eu andei de Simca Chambord, de DKW, Gordini, Aero Willis e até de Romiseta.
Não dá pra explicar aqui o que era uma Romiseta, só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo, com 3 rodas, que a gente entrava pela frente e a direção era grudada na porta. Procure na internet, deve haver um site.
Tá bom, tá bom, confesso mais.
Usei Camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Banlon, assisti à Jovem Guarda, ao Direito de Nascer...
Mas é mentira essa história de que o primeiro disco que comprei foi gravado em 78 rotações.
Há pouco tempo, João, o filho de outra amiga, de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado.
Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando dentro do sulco do vinil.
Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando...
Mas aí ele já estava jogando o Pokemon Stadium no Game Boy. Não é que ele seja desinteressado, eu é que fiquei tipo patinando nos detalhes.
Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as "histórias do tempo em que eu era criança".
Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco, ele "viajou" na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores.
Acho que de certa forma ele tem razão.
Tipo assim...

Nenhum comentário: